quarta-feira, 30 de outubro de 2013

pausa na poesia: desabafo.

Desde que me entendo por gente, adoro piscina. Sempre fui um peixinho. Lembro-me com clareza dos verões dos anos 90, em que, entre infinitos primos e primas, chegava a ficar toda enrugada pelo tempo em excesso passado dentro d'água, vermelha e ardendo por causa do sol, mas feliz, felicíssima. Chego até a dizer que boa parte das minhas lembranças deste tempo foram construídas na piscina.

Pois bem.

Voltando aos anos atuais...
Na semana passada, um amigo resolveu marcar um sítio no feriado. E tem piscina.
Considerando o relato acima, é de se presumir que quase pulei de felicidade, certo? Errado. Liguei para minha mãe. Chorando. Do alto dos meus 23 anos, chorei ao telefone falando com mamãe.
Assim que fui convidada para o evento, o tão esperado evento, de que todos os meus amigos agora falam o tempo inteiro, automaticamente consultei minha enciclopédia de desculpas e lamentei, com a cara lavada e com um teatral quê de tristeza:
- Poxa, que pena!.. Não posso ir. Vou ter que acompanhar minha mãe em uns exames.
Mentira. E eu não sei mentir. É claro que me entreguei, logo de cara...
- Deixa de ser enrolada, menina! Nós vamos. Sua vaga já está reservada. Eu sei que você vai!
Nessa hora, sorri sem graça e falei que "faria um esforço".

O problema é que o esforço não é para "tentar conciliar o sítio com o horário dos exames da minha mãe". Minha mãe não vai fazer exames. Pelo menos não no dia do evento... Meu esforço é para ir e me segurar para não entrar na piscina. É para ir e inventar qualquer desculpa para não nadar... E para aprender, em pouco tempo, a dança da chuva. É para segurar o choro...

Meu Deus!... Até que ponto deixei a ditadura da beleza me atingir? Não pode ser normal deixar de fazer algo que me deixaria absolutamente contente por ser gorda... Por morrer de vergonha dos meus "amigos" e de eventuais piadinhas. Meu Deus! Que tipo de amigos são esses? É normal isso tudo? É normal preferir deixar de ir a um evento divertidíssimo para não ter que vestir biquini? Para não ter que ver nos olhos de todos a gordura pulando da minha barriga? Ora... Foi então que chorei. Não se por me constatar superficial, ou se por ser gorda, ou se por ser excessivamente preocupada com a aparência (aí vem aquela voz interior e diz: "não se preocupou assim quando se empanturrou de sorvete e chocolate, né?...)... Ai, que tortura.
É difícil ser mulher e gorda em tempos de Gisele e panicats.


sábado, 25 de maio de 2013

sobre fraldas

Oito no direito, sete e meio no esquerdo. Miopia. Para completar, algum bocado de astigmatismo, que, confesso, nunca soube ao certo o que é e, muito menos, zero vírgula quantos disso eu tenho em meus olhos. Pois bem. Segunda-feira à noite, prova às sete e meia no dia seguinte. Pijaminha, livros e - importante - lentes na caixinha. Gosto de estudar nua de vista. Sem óculos, sem lente. Enquanto me enveredava pelos direitos reais, quase às dez, toca o interfone. Putz!... Essa hora!
- Oi.
- Olá! É o Daniel. Ele veio buscar umas fraldas...
- Fraldas? Hum... Desculpa. Aqui é do 1702. Você - ou o carinha das fraldas - deve ter confundido...
Aí, tudo ficou claro. Minha mãe trouxera, do interior, umas fraldas a serem entregues ao marido da prima da minha prima. Confusa relação de parentesco. Desculpei-me e pedi ao porteiro que deixasse subir o Daniel.
Oi para o Daniel, fraldas entregues em mãos. Voltei aos estudos... Moço simpático o marido da prima da prima!
O problema é que não vi o rosto do Daniel. Eu não me preocupei em por óculos ou lentes para atender a porta... Atendi-a nua, nua de vista. Escutei a voz: achei-a bonita. Imaginei que fosse o marido da prima da prima. Porém, uma semana depois, minha mãe, ao perguntar-me sobre as fraldas, diz:
- E então, o Luís as buscou?
- Luis, mãe? Não. Daniel...
- Luís é o marido. Quem é o Daniel?
- Não sei, mãe, não o vi.

Pensei em mandar um Spotted para o Daniel-voz-bonita. Daniel-sem-rosto. Mas preferi bloggear...
Daniel, apareça!