domingo, 13 de março de 2016

sobre seguir em frente

A minha cena favorita de um dos piores filmes que já vi é a que mostra uma menina que vira as costas para a sua história de amor e segue em frente. Segue sem olhar para trás. Nos ombros, carrega apenas o peso dos seus próprios sentimentos; leva consigo apenas a sua própria dor - que, embora intensa, não faz com que seus olhos se virem para contemplar pela última vez aquele que a causou.
Pois bem. Seguir em frente dói. Causa uma dor lancinante deixar para trás um sofrimento com o qual já estamos acostumados. Mas é assim que a vida funciona. Doeu-me no coração, na alma e nos olhos deixar, deliberadamente, de vê-lo duas vezes por semana. Ainda me dói pensar que já não posso ouvir sua bela voz, o som do seu sorriso quando você está com preguiça de gargalhar, o café amargo escorregando docemente pela sua garganta, o pincel traçando letras ilegíveis no quadro branco e o piscar dos seus olhos ao me verem... Enfim. Dói-me e, acredito, doer-me-á para sempre não saperti mio. Mas a vida segue, a roda gira, os ventos passam e a brisa que me toca o rosto me diz, em uma alegre sinfonia:
- Ei! A vida continua, menina. Não chore. Talvez, você não encontre alma tão gêmea quanto a dele, mas - que importa!? - ele fechou a porta. Ele não olhou para trás quando escolheu o outro amor. De que adianta choramingar pelos cantos? Ele já não pensa em você - não se preocupe: o destino se encarregará de lhe trazer mais vida. Enquanto isso, viva, viva, viva! Olhe a flor, sinta o cheiro, escute os pássaros e tateie o vento. Nada é mais vivo do que isso.
E assim eu sigo em frente. Não sem dor e não sem dar umas olhadinhas para trás... mas sigo. Sigo, e é o que importa. Afinal, a porta daí está fechada, mas há um infinito mundo de coisas cá fora.

SIGO.